segunda-feira, 19 de julho de 2010

TEMPESTADE NA AMAZONIA DERRUBOU MEIO BILHÃO DE ÁRVORES

Uma única, violenta e avassaladora tempestade que varreu toda a floresta amazônica em 2005 pode ter destruído meio bilhão de árvores, diz um estudo americano.

Pesquisadores brasileiros e americanos divulgaram, esta semana, um estudo sobre a maior tempestade já registrada na Floresta Amazônica - uma super-tempestade que teria derrubado meio bilhão de árvores. O fenômeno aconteceu em 2005. E ainda hoje dá pra ver parte da destruição que ele provocou.
“O vento foi se aproximando e as embarcações indo para o fundo. Nós estávamos agoniados, correndo de um lado para o outro, com medo que alguém sofresse um acidente também”, conta o dono de balsa Pedro Paulo Pereira.
“Tenho visto temporais, teve outros fortes também, mas dessa proporção ainda não tinha visto”, compara o dono de barco Regilson Coimbra.
O temporal que atingiu Manaus em janeiro de 2005 destruiu barcos, destelhou casas, provocou inundações e desabamentos. Mas ninguém conhecia os efeitos dessa tempestade nas regiões de floresta da Amazônia.
Esta semana, revistas científicas publicaram um estudo de pesquisadores brasileiros e americanos que prova que o impacto do temporal na floresta foi muito maior do que se podia se imaginar.
Em 16 de janeiro de 2005, nuvens de chuva formaram uma linha de tempestades de mais de mil quilômetros de comprimento, que começou a cruzar a Amazônia a partir da fronteira com a Bolívia, até o Oceano Atlântico. “Essa linha de tempestades caminhou a 50 km/h, 60 km/h, 70 km/h, demorou dois dias para atravessar a Bacia Amazônica”, explicou o meteorologista Carlos Nobre. As nuvens carregadas de chuva provocaram ventos fortes, responsáveis por um fenômeno destruidor.
“Os meteorologistas denominam esses ventos que saem dessas tempestades e chegam na superfície como - em inglês - downburst, quer dizer, o vento que desce e explode na superfície”,conta Carlos Nobre. O downburst é formado em nuvens altas, até 20 quilômetros da superfície. Um vento forte e frio desce muito rápido, pode passar de 100 km/h. Em 2005, na Amazônia, chegou a 140 km/h, uma velocidade nunca antes registrada na região, que seria suficiente para formar um tornado. Assim que toca o chão, o vento sobe e causa a chamada explosão.
A força dos ventos é tanta, que pode até derrubar aviões. Em 2003, uma aeronave saiu de São Luis, no Maranhão, em direção a Belém. No caminho, o piloto se deparou com um downburst e o avião caiu. “Muita chuva, muito vento. Na hora que ele caiu, deu um relâmpago e depois deu um estouro”, contou Hélio Benjamim, testemunha do acidente.
O fenômeno também acontece em outras partes do Brasil e do mundo. A diferença é que esse de 2005 na Amazônia foi muito maior. Reuniu dezenas de tempestades alinhadas, que causaram estragos ao longo de três mil quilômetros.
Depois da tempestade, fotos de satélite mostraram clareiras em uma parte da floresta onde não há desmatamento causado pelo homem. Os cientistas então ampliaram a análise para toda a área atingida pelo fenômeno: 2,5 milhões de quilômetros quadrados. E afirmam: mais de 500 milhões de árvores caíram durante os três dias de tempestade na região.
"Durante essa tempestade tivemos uma mortalidade muito maior que a mortalidade ocorrida no mesmo ano pelas secas na Amazônia", Niro Higuchi, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.
Cinco anos depois, a floresta já fechou grande parte das clareiras. Mas os vestígios da passagem do vendaval ainda estão por aqui. Os ventos fortes derrubaram árvores que tinham até 40 metros de altura. Aconteceu uma espécie de efeito dominó. Uma árvore grande levou ao chão pelo menos outras 12 árvores menores. A violência da queda foi tão grande que a árvore foi arrancada do chão. Dá para ver que as raízes ficaram expostas.
A causa de um fenômeno tão extremo ainda está sendo estudada pelos pesquisadores. Mas o aumento da temperatura do planeta pode ter contribuído para a formação dos ventos.
Agora, se o homem não interferir, a recomposição da floresta será feita naturalmente. Em 20 anos não deve haver mais sinal das clareiras.

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